quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Aplicação de Injetáveis na Farmácia

Muito se fala a respeito de esse assunto. Como hábito os faladores costumam abordar questões como irresponsabilidade dos balconistas, inescrupulosos proprietários de farmácias, falta de técnicos em enfermagem, etc.
Enquanto isso a realidade segue seu curso, e muitas, muitas farmácias continuam com a prática ilegal de aplicação de injetáveis sem a estrutura adequada.
Minha intenção não é recriminar, a Lei já faz isso por si só:
“É crime aplicar injetáveis sem ter habilitação legal, e é agravante aplicar sem possuir local adequado.”
Infelizmente muitas vezes o balconista não conhece seus direitos, e teme ser prejudicado ou até demitido se não concordar em “aprender” a realizar a aplicação de certas injeções consideradas “simples”, e que “não fazem mal a ninguém”, como anticoncepcionais e outras mais comuns (aqui se enquadrando a famigerada Voltarem).
Amigo balconista, é possível que você já realize aplicação de injetáveis há 3, 5, 10 ou até 20 anos. Infelizmente não é o tempo de experiência que conta na hora de decidir o que podemos e o que não podemos realizar em uma farmácia, e a verdade é que aqueles que praticam a aplicação de injetáveis sem o conhecimento técnico adequado, sem a habilitação legal, estão se arriscando a duas coisas:
1.      Ser responsabilizados por eventuais danos que a medicação e/ou a aplicação da mesma possa causar ao paciente, além de responder judicialmente pelo ato ilegal da prática sem habilitação legal;
2.      Causar, mesmo sem a intenção, dano ao paciente, tais como aplicações em locais incorretos, dor desnecessária, ineficácia do fármaco, lesão a nervos como o ciático, abscessos, infecções, inflamações, etc.
E qual seria a saída? Como se recusar a realizar essa prática ilegal e ao mesmo tempo não perder os clientes para quem a pratica? Como fazer isso e não prejudicar seu emprego?
Aqui vai uma possível solução:
Se a farmácia na qual você trabalha está agindo ilegalmente denuncie. Isso mesmo, não há necessidade de se identificar, basta ligar anonimamente para a ANVISA e denunciar que profissionais não habilitados estão realizando aplicações de injetáveis na farmácia X. Uma breve visita desse órgão fiscalizador não irá fechar nem prejudicar a farmácia, apenas “assustar” um pouco o proprietário, e incentivá-lo a seguir as regras.
Lembre-se, as regras para aplicação de injetáveis na farmácia são:
·         Só aplica o profissional habilitado: médico, enfermeiro, farmacêutico (apenas aqueles que participaram de capacitação), e técnicos em enfermagem.
·         Para aplicação é necessário local adequado: ambulatório provido de higiene e equipamentos de segurança, além de diploma do responsável afixado na parede. Aplicação no banheiro é crime! É um local contaminado, e pode causar sérias infecções no paciente.
Antes de tomar sua decisão lembre-se de que anticoncepcionais incorretamente aplicados podem levar a uma gravidez indesejada. Já pensou ser o responsável por isso?
Lembre-se de que certas medicações, como a Benzetacil, estão terminantemente proibídas de serem aplicadas na farmácia, mesmo se houver enfermeiro no local, e outras, oleosas, podem causar a morte do paciente se atingirem vasos sanguíneos, além das complicações decorrentes de imperícia durante a aplicação.
Finalmente, se você for solicitado a aplicar alguma injeção negue-se. Diga que não sabe. Por que você correria o risco de lesionar um cliente, perder seu tempo realizando uma função que não é sua, e poder até mesmo ser processado?

Pelo Fim da "Empurroterapia"

Sim, a "Empurroterapia" existe, é amplamente difundida, e os balconistas têm tendência a se submeter a ela devido a importante comissão que gera (renda extra que muitas vezes é a verdadeira responsável pelo sustento do balconista).
Centenas de sites, jornais, revistas, médicos (Oh, médicos! Como odeiam isso!) são terrivelmente contra essa prática, principalmente por causa das trocas que a mesma ocasiona: referência por similar/genérico.
O caso é que, na maior parte das vezes o balconista não tem realmente uma opção a seguir: ou faz a troca ou o cliente compra em outra farmácia.
Já imaginou se um cliente entra na sua farmácia pedindo uma caixa de um medicamento de referência, que custa, digamos, R$ 100,00, e você, balconista, sabe que há um medicamento similar, com exatamente o mesmo princípio ativo, que custa R$ 40,00 e ainda por cima paga 5% (no caso, R$2,00) de comissão para você. Como deixar de informar o cliente? Como deixar que ele pague mais caro, comprando o de referência? Como perder a chance de ajudá-lo e ao mesmo tempo ganhar comissão? Pior: se você não informar sobre a possível troca o cliente pode não comprar o produto na sua loja, atravessar a rua e comprar o mesmo similar na farmácia concorrente, daí você perde o cliente e a comissão, e talvez ainda o emprego, se essa prática se repetir com o conhecimento do gerente ou proprietário do estabelecimento.
É fácil pregar sermões sobre Ética, Dever, etc, mas a verdade é que o balconista não ganha um salário suficiente para o seu adequado sustento se não contar com as bonificações advindas das comissões. Isso sim é um fato, e outro fato é que muitas pessoas importantes da ANVISA ficam criticando a prática de troca de referência por similar realizada pelos balconistas, afirmando que isso causa sérios danos à Saúde do país, querendo impor normas e mais normas para a comercialização de medicamentos, mas ainda não vi algum deles se importar em apresentar uma proposta para aumentar a QUALIFICAÇÃO dos balconistas das farmácias, para aumentar o SALÁRIO desses milhares de pessoas que todos os dias lêem prescrições ilegíveis, explicam posologias que o médico não se prestou a explicar aos pacientes: como diluir, preparar doses, cuidados ao ingerir, horários para tomar os remédios e muito mais.
Ao invés de condenar a “empurroterapia”, as práticas de trocas de medicamentos, a indicação de MIPs, lute-se por um piso salarial para a categoria.
Que os balconistas de farmácia passem a ter um salário mínimo de R$ 800,00, e aí sim podem cobrar que não vendamos similares sem prescrição.
Que os balconistas de farmácia virem uma profissão regulamentada, poderíamos ser Técnicos em Farmácias, tal como Técnicos em Enfermagem, Radiologia e outros.
Ou você acha que a nossa profissão não é importante?